Rachel e Andréia
Semana passada, a escritora Rachel de Queiroz morreu aos 93 anos de idade. Muitos podem pensar que já havia mais do que passado da hora. Pura maldade. Rachel foi a maior escritora brasileira de todos os tempos e, quiçá, de toda a língua portuguesa. Mas o que mais me chamou a atenção não foi a morte dela, mas o fato de ela estar quase tetraplégica, sem os movimentos das pernas e dos braços. E logo dos braços! Fico imaginando a tristeza que deve ter sido esse final de vida dela, uma escritora que amava contar sobre o seu povo, o nordestino, e sem poder fazê-lo, privada dos movimentos dos braços. É como se um pássaro tivesse as suas asas cortadas, impossibilitada de voar.
Ao mesmo tempo, o Rio, ou melhor, o país inteiro, recebeu uma lição de superação. Depois de ter as pernas decepadas após um acidente marítimo em Itacuruçá, distrito de Mangaratiba, na Costa Verde do Rio de Janeiro, a professora Andréia Lisboa Salgado, de 33 anos, impressionou meio mundo ao não lamentar a perda das pernas e agradecer por estar viva para cuidar dos dois filhos pequenos. Três dias depois já dava entrevistas e hoje foi à praia, sem vergonha de esconder os cotocos que restaram de suas pernas.
Talvez seja tudo uma questão de ter um objetivo na vida. Rachel de Queiroz cumpriu o seu, revelar o Brasil ao próprio Brasil. Andréia já sabe o seu. E pensar que nos preocupamos com tantos problemas menores, como trabalhar aos finais de semana, como agora, e saber que milhões dariam tudo para estar no meu lugar.